sexta-feira, 16 de março de 2012

Grêmio estudantil: participar para prevenir a violência


     A escola é um lugar estratégico e privilegiado para se trabalhar na perspectiva da prevenção da violência, pois pode ser o palco de experiências de prática cidadã. Elas podem ser disparadas, por exemplo, por meio do incentivo ao associativismo juvenil na forma de grêmio estudantil.
     A violência não afeta de maneira uniforme regiões, grupos etários, classes sociais ou gênero. A maioria das vítimas da violência letal é do sexo masculino e está na faixa entre 15 e 24 anos (segundo dados do Infocrim da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo).
Carência de opções
     Ao analisar as áreas onde a violência se manifesta com mais frequência, percebe-se a alta densidade populacional e a alta proporção de jovens no total da população, a presença insuficiente do poder público e os índices de vulnerabilidade e exclusão. Muitas vezes, os serviços públicos de educação e saúde estão degradados e contam com profissionais pouco estimulados e preparados para lidar com os desafios da comunidade. As escolas, os postos de saúde e a polícia são, em muitos locais da periferia, os únicos equipamentos públicos presentes.
     Neste contexto, a violência letal acaba resultando de conflitos banais, estimulados por uma cultura da violência que valoriza o individualismo e exige uma resposta imediata e violenta diante de qualquer desavença. Mesmo quando não acabam em mortes, estes conflitos e a maneira como são resolvidos perpetuam uma cultura de desvalorização do diálogo, da negociação e do associativismo e da vida.
     Diante deste diagnóstico, é possível traçar caminhos e medidas para contribuir com a diminuição e a prevenção da violência nestes locais. Essas ações também podem atuar em um nível mais simbólico, ampliando o repertório das comunidades e interferindo na cultura de banalização da violência. O Instituto Sou da Paz tem desenvolvido diversos projetos de intervenção com foco na prevenção da violência juvenil em comunidades de São Paulo. Estes projetos pretendem promover a par ticipação democrática dos jovens nos processos de ocupação e transformação de espaços públicos (praças ou escolas), apostando na negociação e na valorização da diversidade como estratégias que contribuem para mudar este quadro.
O potencial das escolas
     As escolas são um dos únicos equipamentos públicos encontrados nas regiões periféricas e têm enorme potencial para a formação de lideranças e a construção de formas pacíficas de relação social e de promoção dos direitos de cidadania.
     O grêmio estudantil é a associação representativa dos estudantes. Sua existência é garantida por lei, mas sua fundação não deve corresponder ao cumprimento exclusivo de uma obrigação legal. Ao contrário, o grêmio deve existir como um princípio e conteúdo pedagógico, compondo o currículo escolar, sendo uma experiência política teórica e prática de exercício de cidadania, formação de cultura cívica e estabelecimento de uma rede de capital social na escola.
     Considerar o estímulo à formação e à consolidação dos grêmios estudantis um processo pedagógico é assumir, por um lado, a formação política dos jovens, no sentido de participação no espaço público, buscando prepará-los para a vida democrática. Por outro lado, é assumir os alunos como membros da comunidade escolar, dando mais sentido e significado para seu estar na escola.
COMO FORMAR UM GRÊMIO ESTUDANTIL?
1) O grupo interessado em formar o grêmio avisa a direção da escola, divulga a proposta e convida os alunos a formar a comissão pró-grêmio. Este grupo elabora uma proposta de estatuto que será discutida e aprovada em assembleia geral.
2) A comissão pró-grêmio convoca todos os alunos da escola para participar da assembleia geral. Nesta reunião os alunos decidem o nome do grêmio, o período de campanha das chapas, a data das eleições e aprovam o estatuto do grêmio, além de montar a comissão eleitoral.
3) Os alunos se reúnem e formam chapas para concorrer à eleição. A comissão eleitoral promove debates entre as chapas, abertos a todos os alunos.
4) A comissão eleitoral organiza a eleição. No final da apuração, a comissão pró-grêmio deve fazer uma ata da eleição, para divulgar os resultados.
5) A comissão pró-grêmio envia uma cópia da ata da eleição e do estatuto para a direção da escola e organiza a cerimônia de posse da diretoria do grêmio. A cada ano, reinicia-se o processo eleitoral, a partir do 3º passo.                                                                                                     
                                                                                                                    Roberta Navas Battistella
                                                                                                jornalista, ONG Sou da Paz, São Paulo, SP

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